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BATISMO

A MISSÃO DOS PAIS

O INÍCIO DA RELAÇÃO COM DEUS

Ao lermos o Evangelho, podemos observar algumas situações da intervenção do Espírito Santo na vida da criança pequenina, até mesmo antes do seu nascimento (por exemplo, o salto de alegria de S. João Baptista no seio de sua mãe), o que indica que a Graça de Deus pode actuar na criança e que a criança é capaz de Deus desde o princípio da sua existência. Pelo Baptismo, acreditamos que a criança recebe realmente o Espírito Santo e começa uma vida de amizade com Deus.

A nossa relação com Deus encontra-se intimamente ligada e dependente das relações que vivemos, especialmente com os nossos pais (ou quem os substitua). Este vínculo que une uma criança aos seus é constituído pelos laços de união, de amor, de pertença mútua, que são o núcleo central do desenvolvimento ao longo de toda a vida.

Existe um certo paralelismo entre as relações familiares e a nossa relação com Deus. Por isso, quem experimenta um ambiente de confiança e de amor no seio da família pode, mais facilmente, experimentar a força e a beleza da relação com Deus.

E porquê?

  • Porque, como cristãos, concebemos a experiência religiosa como sinónimo de relação: o Deus de que falam as Escrituras é um Deus que nos convida a uma relação pessoal, é um Deus que nos ama. O Papa Bento XVI, citando São João, sublinha isso mesmo no título da sua primeira encíclica – “Deus é amor”.

  • Porque a experiência de relação com Deus se faz por dentro da experiência das relações humanas, não são coisas separadas. «A criança não é sensível às palavras, aos discursos ou lições teóricas; a criança só assimila o que sente e vê» dizia Maria Ulrich – é a vivência que a criança faz da fé dos pais o terreno em que fica a semente, da qual desabrochará, mais tarde, a sua fé pessoal. Este terreno deve ser preparado o mais cedo possível. As experiências vividas podem encaminhar para uma experiência de Deus, mas também podem diminuir ou até mesmo anular a possibilidade dessa relação.

ETAPAS DA CAMINHADA

Muitas vezes os pais estão preocupados com a forma como os seus filhos falam de Deus e o sentem. Vale a pena, por isso, saber que a maneira como nos relacionamos com Deus tem um percurso normal, ainda que cada um o faça à sua maneira.

Do nascimento até aos dois anos e meio / três anos, a religiosidade da criança e a sua ideia de Deus não são pessoais, são ambientais, são baseadas na ligação afectiva com a mãe (e depois com o pai) e são fruto da sua identificação com as atitudes religiosas deles. Pode-se dizer que a criança se encontra num estádio afectivo-ambiental como dizia o Pe. José Arellano.

Aos três anos, a criança imagina Deus à semelhança dos seus pais. Acha que Ele é omnipotente, omnisciente e protector. É alguém que automaticamente premeia o bem e castiga o mal. Inicia-se assim uma nova etapa – o estádio fabuloso, no qual a criança imagina Deus à imagem do homem. A ideia de Deus encontra-se no plano do fantástico e do emotivo. Deus está num nível pré-mágico. O interesse por Deus é grande e a criança faz muitas perguntas a seu respeito. Gosta de participar nos momentos de oração ou nas celebrações, de uma maneira alegre e dinâmica.

Pelos quatro anos, Deus é um ser fantástico, estilo conto de fadas, fascinante. É alguém que castiga os maus. A criança é capaz de experiências religiosas profundas e originais no seu mundo de afectividade e fantasia.

Ainda segundo o Pe. José Arellano, pelos cinco anos, ocorre a primeira desmistificação das figuras do pai e da mãe e dá-se a primeira aclaração da imagem de Deus. Os pais deixam de ser detentores do poder absoluto, diferenciando-se assim de Deus, que se vai definindo como o Pai do Céu, numa imagem claramente mais universal mas ainda muito «humanizada».

Nesta idade, as principais características da religiosidade da criança são:

  • imitação (das virtudes religiosas das pessoas queridas);

  • procura de Deus como protector, servidor e provedor das suas necessidades;

  • representação de Deus e do divino em termos humanos (antropomorfismo);

  • reciprocidade “mágica” – pensa que, se aprender fórmulas, gestos e comportamentos exteriores referentes a Deus e se os realizar com perfeição, Ele retribuirá infalivelmente.

Como temos vindo a salientar, o conhecimento que a criança vai tendo de Deus está intimamente relacionado com as suas experiências, em primeiro lugar na família, mas também na creche ou jardim-de-infância e na comunidade cristã em que está inserida, daí a importância dos padrinhos e dos avós que são os rostos visíveis desta comunidade. Estas experiências podem ser constituídas por pessoas, locais, objectos e acções que são manifestações da vivência cristã. Alguns exemplos:

  • objectos religiosos: crucifixos e medalhas; as figuras do presépio; imagens de Nossa Senhora ou dos santos; vestes litúrgicas; igrejas e santuários;

  • acções: oração; gestos (mãos postas, genuflexão, etc); ir à missa com os pais ou com os avós; cânticos religiosos; Via-sacra; procissões; peregrinações.

  • celebrações dos sacramentos e festas litúrgicas: Domingo; Natal e Páscoa; casamentos, baptizados, primeiras comunhões; bênção da casa, etc..

  • pessoas / testemunhas: o Papa; os padres e as religiosas; os escuteiros; os catequistas da paróquia e os acólitos.

O PAPEL DOS PAIS

Percebemos a importância dos pais na construção da identidade da criança, especialmente nos primeiros anos de vida, portanto, é, sobretudo, a eles que compete despertar a criança para Deus. É uma etapa crucial que antecede a catequese paroquial, que, a partir dos 6 anos, vem colaborar com eles (e não substituí-los) na educação cristã dos seus filhos.

É muito importante que os pais ajudem a criança a:

  • construir uma imagem positiva de si própria, que começa com a experiência de se sentir amada;

  • descobrir e gerir as suas emoções;

  • desenvolver a sua interioridade, apreciando o silêncio, a calma, a beleza;

  • auto-controlar-se, aprendendo que ser livre não é fazer só o que se quer mas, ao contrário, é optar por não ser escravo dos instintos, das reacções automáticas, das opiniões dominantes ou da última moda;

  • reflectir antes de agir;

  • conhecer os seus próprios limites;

  • ser exigente consigo própria, percebendo que através do esforço é capaz de ultrapassar barreiras e dificuldades;

  • relacionar-se com os outros, confirmando a sua individualidade no meio dos pares e descobrindo a individualidade do outro;

  • ser generosa, vivendo a alegria do dar e do dar-se;

  • ser capaz de se sentir responsável pelos outros.

É também muito importante que os pais ajudem a criança a estabelecer uma relação com Deus que acontece através de Cristo e da Igreja:

  • falando de Deus, sobretudo através das histórias da Bíblia e da vida dos Santos, que dão sentido às experiências de vida cristã;

  • proporcionando experiências de oração, como construção de uma amizade com Jesus, e trazendo à oração a vida de todos os dias, as alegrias e as dificuldades;

  • procurando responder com verdade às suas perguntas sobre o sentido da existência, da origem, do destino, do sofrimento;

  • verificando que os pais têm uma relação de amizade com a Igreja, como comunidade daqueles que partilham a fé, para que seja claro que eles não pretendem que os filhos os sigam a eles, mas antes a Alguém grande e bom que eles, pais, também seguem.

O papel dos pais é proporcionar o encontro da criança com Deus facilitando-lhe experiências adequadas ao seu desenvolvimento e respeitadoras da sua liberdade. Os filhos não são propriedade nossa e, por isso, o nosso papel na relação da criança com Deus é principalmente uma mediação primária, um acompanhamento, deixando espaço para que a Graça de Deus actue na criança. Contudo, não nos podemos esquecer de que “a educação é, fundamentalmente, um caminho que se faz seguindo alguém cuja vida, pela beleza e verdade que irradia, atrai” e que os pais podem ser esses guias para os filhos.

«A inteligência da criança observa amando e não com indiferença – isso é o que faz ver o invisível» (Maria Montessori).

 

COMO EDUCAR? ALGUNS ASPECTOS A NÃO ESQUECER:

Educar em casal: uma educação equilibrada deve ter a intervenção do pai e da mãe. Isto não significa que tenha que haver uma sintonia perfeita entre ambos, é até bom que os filhos compreendam a sua complementaridade, mas é importante que estejam de acordo em aspectos de fundo;

Testemunhar com a própria vida: uma proposta só é credível para as crianças se o for para os que as educam. É preciso que os pais sejam perseverantes no esforço de viver em sintonia com o ideal que querem propor aos filhos; sabendo que não somos, na prática, sempre coerentes, que temos muitas falhas, mas não desistindo desse ideal como critério no conselho que se dá, na avaliação de um acontecimento da vida social, de um filme que se vê, etc.;

Educar pelo diálogo: o tempo que temos com os filhos não deve tornar-se em monólogos nem “lições de moral”. É preciso dar espaço e “tempo de antena” aos filhos; ouvir sem interromper; estar atento às diferenças de cada filho e compreender que a relação com cada um é sempre nova e diferente;

Autoridade: autoridade significa “aquilo que faz crescer”; não abdicar de ajudar os filhos a crescer implica ter critérios exigentes e não se ficar pelo “não tem mal” (se não tem mal, mas também não tem bem, é porque não ajuda a crescer!);

Humildade: reconhecer que o resultado dos nossos esforços não nos é dado conhecer, nem controlar; só Deus é Senhor do destino dos nossos filhos; a boa notícia é que é isso que Ele mais quer, mais e melhor do que nós!

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