BATISMO
A MISSÃO DOS PADRINHOS
O sentido de existirem Padrinhos é uma ajuda a que «a graça baptismal possa desenvolver- se» (Catecismo da Igreja Católica 1255). Os Pais, os primeiros a ter essa ajuda como missão, escolhem Padrinhos para o seu filho, para terem apoio nessa grande responsabilidade. Querem que ele tenha alguém para quem olhar e a quem seguir; alguém que seja para ele um testemunho de vida e que possa dar-lhe, quando mais precisar, uma palavra certa ou um conselho decisivo; alguém, sobretudo, que lhe confirme a certeza de que não há tesouro maior na vida do que a amizade com Jesus.
Mas, se são para isso os Padrinhos, então é indispensável que eles sejam, como nos ensina a Igreja, «pessoas de fé sólida, capazes e preparadas para ajudar o novo batizado no seu caminho de vida cristã».
Hoje, vivendo numa cultura sentimentalista, também os Pais cristãos caem na tentação de ter, na escolha dos Padrinhos, o critério afetivo como primeiro. Os Padrinhos são alguém de quem se gosta muito e a quem se quer manifestar esse mesmo sentimento, como quem diz: “sou tão teu amigo que te convido para Padrinho do meu filho”.
Há um lado bom neste critério: a amizade verdadeira – e entre cristãos, em particular – é, geralmente, fundada numa afinidade de coisas importantes, ou mesmo essenciais. Por isso, é provável que as pessoas de quem mais se gosta sejam também pessoas com os dons mais indicados para serem bons Padrinhos.
Mas o critério afetivo traz consigo o risco de uma deturpação, que às vezes se torna numa pequena tirania: achar que o simples facto de se gostar de uma pessoa dispensa qualquer outro discernimento.
Ora, gostamos de muitas pessoas – e ainda bem que assim é – mas nem todas são, necessariamente, pessoas que levam uma vida digna de ser uma referência para os nossos filhos. Às vezes, parentes ou grandes amigos nossos, mantendo-se bem intencionados e com vontade de acertar, foram dando passos na vida que os afastaram do bem, da Igreja ou até mesmo da fé em Deus.
O aumento do número de casais divorciados e recasados civilmente, o aparecimento do fenómeno das “uniões de facto” e de outras manifestações em desacordo com a doutrina e moral da Igreja, vieram agravar esta situação. Não temos que deixar de ser amigos deles. Muito pelo contrário. Provavelmente, mais do que nunca, precisam da nossa companhia. Mas devemos encontrar outras maneiras de lhes manifestar amizade sem ser convidá-los para Padrinhos de um filho, porque isso é pôr o sentimento à frente do nosso dever primeiro de educadores dos nossos filhos.
Também decorrente do excesso de importância dado ao critério afetivo é a “rivalidade” entre Pai e Mãe da criança na escolha dos Padrinhos: se um dos Padrinhos é escolhido por ele, o outro tem que ser escolhido por ela; se os irmãos dum servem para Padrinhos, os irmãos do outro não são menos do que eles; etc. Pai e Mãe ficam escravos dos seus próprios laços afetivos, em vez de se unirem para fazerem, com liberdade, a escolha que é melhor para o filho.
Há ainda outro risco nesta forma de escolher Padrinhos: o velho argumento de que “há pessoas que não vão à Igreja mas são muito melhores do que aquelas que lá vão”. Atenção, aqui o erro é mais grave. A fé e a fidelidade à Igreja são, em si mesmas, coisas muito boas e importantes, que não podem ser substituídas por se ser simplesmente “boa pessoa”. Além disso, também é errado confiar mais na coerência humana do que na graça de Deus.
Para simplificar e tornar claro o que foi dito, devemos reter os seguintes critérios na escolha dos Padrinhos conforme está dito no Código de Direito Canónico que compendia a Lei da Igreja (can. 874):
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serem escolhidos pelos pais, ou por quem faz as vezes destes;
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terem completado 16 anos (pode haver excepções à idade mínima mas devem ser avaliadas pelo ministro ordinário – bispo, presbítero ou diácono – que vai baptizar);
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serem católicos, eucaristiados, crismados e levarem uma vida de acordo com a fé;
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não estarem em nenhuma situação canonicamente irregular (por exemplo, se forem casados terão de o ser pela Igreja);
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não serem o pai ou a mãe do batizado.
A impossibilidade, por parte dos pais, de escolher para Padrinhos cristãos que correspondam às exigências acima formuladas não obsta à celebração do Baptismo, pois o Código de Direito Canónico (can. 872) só exige Padrinhos na medida do possível.
Ser Padrinho ou Madrinha é um desafio à seriedade da própria vida. Os Padrinhos são, junto do seu afilhado, a certeza da presença de Jesus, a proximidade da Igreja, a comunidade cristã que se faz companhia. Sendo assim, o Padrinho ou a Madrinha têm que reconhecer nessa missão um apelo para aprofundarem a sua fé e a verdade dos seus critérios. É bom que sejam fiéis à Missa de Domingo, se confessem e comunguem com regularidade, sustentem a sua fé com leituras boas e outros meios de formação. E é importante que rezem, especialmente pelo seu afilhado. Rezar por ele é um serviço precioso e ajuda-os a lembrar-se de que a amizade com Jesus é o melhor de todos os presentes.
Nos primeiros tempos de vida de um afilhado, a missão dos Padrinhos é essencialmente junto dos Pais, sendo para eles uma companhia na verdade da sua vida cristã. Uma maneira concreta de os ajudarem é oferecerem-se para tomar conta do afilhado para os Pais poderem ir juntos à Missa, participarem nalgum meio de formação útil ou simplesmente descansarem ou terem tempo para estar um com o outro.
À medida que a criança cresce, os Padrinhos devem acompanhá-la com a sua presença, para que essa convivência torne possível, mais tarde, poderem dar-lhe algum conselho ou corrigirem alguma atitude. A presença e a companhia são o ponto de partida duma amizade que se pode tornar decisiva no crescimento do afilhado.
Nesta fase, os Padrinhos podem ajudar os Pais na educação do seu filho; podem ajudá-los no critério de escolha de uma escola. Devem, também, lembrar aos Pais a importância de rezarem com o seu filho, nomeadamente no início das refeições e ao deitar. E garantirem que a criança tem catequese, na paróquia ou na escola.
Para uma criança, a unidade entre os adultos que são importantes na sua vida é um testemunho decisivo. Por isso, os Padrinhos devem evitar contrariar os Pais na frente da criança e resistir à tentação de aparecer diante do afilhado como uns heróis, muito mais atrativos do que os próprios Pais. Pela mesma razão, devem ajudar o casal a estar unido na maneira de educar o filho, nomeadamente superando divergências e acusações mútuas que, às vezes, surgem.
Na adolescência e vida adulta do afilhado, é importante a amizade verdadeira dos Padrinhos, que o encaminhe sempre no sentido do bem, mesmo que seja difícil. É bom para o afilhado reconhecer que pode contar com os seus Padrinhos, mas que eles são seguros nos critérios e o ajudam a crescer.
Uma última palavra para falar da importância dos Padrinhos nos momentos de sofrimento: doença, separação, dificuldade financeira, morte. É quando tudo parece desabar que mais falta faz uma rocha segura e essa é também a missão do Padrinho e da Madrinha.
Em conclusão, a vida é como uma estrada que nos leva ao destino bom para que estamos guardados. Os Padrinhos são chamados a uma paixão missionária pelo destino do seu afilhado e só poderão ter sossego nesse abraço inteiro e definitivo que só acontece no Céu.
“O Baptismo é o mais belo e magnífico dos dons de Deus. ( … ) chamamos-lhe dom, graça, unção, iluminação, veste de incorruptibilidade, banho de regeneração, selo, e tudo o que há de mais precioso. Dom, porque é conferido àqueles que não trazem nada; graça, porque é dado mesmo aos culpados; Baptismo, porque o pecado é sepultado nas águas; unção, porque é sagrado e régio (como aqueles que são ungidos); iluminação, porque é luz irradiante; veste, porque cobre a nossa vergonha; banho, porque lava; selo, porque nos guarda e é sinal do senhorio de Deus.” (S. Gregório de Nazianzo, Oratio 40, 3-4)